A Guerra do Contestado ocorreu na Regia Sul do Brasil, precisamente no Paraná e em Santa Catarina, entre Outubro de 1912 e Agosto de 1916.
No final do século 19, o governo brasileiro autorizou a construção de uma estrada de ferro ligando os Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Para isso, desapropriou uma faixa de terra, de aproximadamente 30 km de largura, que atravessava os Estados do Paraná e de Santa Catarina - uma espécie de "corredor" por onde passaria a linha férrea.
A responsável pela construção foi a empresa norte-americana Brazil Railway Company, de propriedade do empresário Percival Farquhar, que também era dono da Southern Brazil Lumber and Colonization Company, uma empresa de extração madeireira. A construção da estrada acabou atraindo muitos trabalhadores para a região onde ocorreria a Guerra do Contestado. Com o fim das obras, o grande número de migrantes que se deslocou para o local ficou sem emprego e, conseqüentemente, numa situação econômica bastante precária.
Ao mesmo tempo, os posseiros que viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina foram expulsos de suas terras. Isso porque, embora estivessem ali já há bastante tempo, o governo brasileiro, no contrato firmado com a Brazil Railway, declarou a área como devoluta, ou seja, como se ninguém ocupasse aquelas terras.
Além de construir a estrada de ferro, Farquhar, por meio da Southern Brazil Lumber, passou a exportar para os Estados Unidos a madeira extraída ao longo da faixa de terra concedida pelo governo brasileiro. Com isso, os pequenos fazendeiros que trabalhavam na extração da madeira foram arruinados pelo domínio da Lumber sobre as florestas da região. Messianismo
A construção da estrada de ferro ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul trouxe consigo os principais elementos político-econômicos que levaram à eclosão da Guerra do Contestado. Afinal, a presença das empresas de Farquhar na região e os termos do acordo firmado com o governo brasileiro levaram, de uma só vez, à expulsão dos posseiros que trabalhavam no local, à falência de vários pequenos fazendeiros que viviam da extração da madeira e à formação de um contingente de mão-de-obra disponível e desempregada ao fim da construção.
Entretanto, havia também um outro elemento importante para o início do conflito: o messianismo. A região era freqüentada por monges que faziam trabalhos sociais e espirituais e, vez ou outra, envolviam-se também com questões políticas - o que lhes dava certo destaque entre os moradores daquela localidade.
Em 1912, apareceu na região um monge chamado José Maria de Santo Agostinho, nome que mais tarde a polícia descobriria ser falso. José Maria foi saudado pelos habitantes do local como a ressurreição de outro monge que vivera ali até 1908, o monge João Maria: era como se o antigo líder espiritual tivesse voltado.
José Maria rapidamente ganhou fama na região por seu suposto dom de cura. Em meio aos problemas político-econômicos provocados pelas atividades das empresas de Percival Farquhar, o monge passou a envolver-se também com questões que estavam muito além dos problemas espirituais dos seus seguidores.
A guerra
Sob a liderança de José Maria, os camponeses expulsos de suas terras e os antigos trabalhadores da Brazil Railway organizaram uma comunidade no intuito de solucionar os problemas ocasionados pela tomada das terras e pelo desemprego. Uniram-se ao grupo os fazendeiros prejudicados pela presença da Lumber na região. Tudo isso reforçado pelo discurso messiânico do monge José Maria, que logo declarou a comunidade sob sua liderança como um governo independente.
A mobilização na região passou a incomodar o governo federal não apenas por crescer rapidamente, com a formação de novas comunidades, mas também porque os rebeldes passaram a associar os problemas econômicos e sociais à República. Ao mesmo tempo, os coronéis locais ficaram incomodados com o surgimento de lideranças paralelas, como José Maria. Já a Igreja, diante do messianismo que envolvia o movimento, também defendeu a intervenção na região.
De forma autoritária e repressiva, os governos do Paraná e de Santa Catarina, articulados com o presidente Hermes da Fonseca, começaram a combater os rebeldes. Embora tenham tido pouco sucesso nos dois primeiros anos do conflito, as forças oficiais obtiveram, a partir de 1914, sucessivas vitórias sobre os revoltosos - graças à truculência das tropas e ao seu numeroso efetivo, que contava com homens do Exército brasileiro e das polícias dos dois estados.
Com quase 46 meses de conflito, a Guerra do Contestado superou até mesmo Canudos em duração e número de mortes. Famintos e com cada vez mais baixas, diante do conflito prolongado, da força e crueldade das tropas oficiais e da epidemia de tifo, os revoltos caminharam para a derrota final, consumada em agosto de 1916 com a prisão de Deodato Manuel Ramos, último líder do Contestado. http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/guerra-do-contestado.jhtm)
Durante os quatro anos que durou a Guerra do Contestado morreram cerca de 20 mil pessoas - equivalente a um terço da população de Santa Catarina, à época. E também milhares de militares.
O movimento revoltoso teve, ao longo desses anos, várias lideranças que comandaram com êxito muitos combates e ofensivas. Entre eles Venuto Baiano, Chico Ventura, Aleixo Gonçalves, Antonio Tavares, Adeodato Ramos, Bonifácio Papudo e Alemãozinho (que traiu o movimento). Atuavam sob a forma de guerrilha, conseguiam infiltrar espiões regularmente - os bombeiros - nas forças que os combatiam, lutavam com revólveres, espingardas e no corpo a corpo com facões de pau feitos de madeira duríssima da região.
Apoiados numa forte crença de ressurreição e retorno nos exércitos encantados de São Sebastião, eram ferozes e destemidos em combate.
Logo os combatentes sertanejos foram chamados de pelados e seus opressores de peludos. Os pelados formaram tropas de elite nos redutos, os Pares de França, inspirados nas histórias do rei Carlos Magno. Queriam viver numa terra santa onde “tudo era irmão e irmã” e sob o signo de que “quem tem moe, quem não tem moe também, ficando no fim todos iguais”.
Conseguiram forças para uma resistência inédita na história e só foram subjugados pela fome e extermínio sistemático nos redutos invadidos com a degola dos prisioneiros.
Tinham um confuso discurso de fundar uma monarquia, na verdade um sonho de voltar aos tempos em que a vida havia sido mais digna e generosa. Rosa Pais de Farias, filha do líder Chico Ventura, fazia as bandeiras do movimento e os uniformes dos Pares de França. Morou e morreu em Lebon Régis, no meio-oeste catarinense.(Foto: Dario A. Prado Jr.)
Embora pouco reconhecidas pela literatura e registros da Guerra do Contestado, as mulheres tiveram um papel fundamental no conflito. Duas se destacaram na guerra por sua bravura: Maria Rosa, filha de Elias de Souza e Francisca Roberta, mais tarde conhecida como Chica Pelega.
Maria Rosa, aos 15 anos, em meio a orações, entrava em transe e discursava dizendo receber ordens do monge José Maria. Durante os transes tinha visões de batalhas e, daí em diante, era ela quem definia as ordens recebidas pelo espírito do monge para organizar o comportamento do grupo. Com o passar do tempo, além de líder espiritual, a virgem Maria Rosa se transforma em chefe militar e comandou a retirada estratégica, após a primeira batalha de Taquaruçú, em 1913, para o novo reduto em Caraguatá.
Chica Pelega, já respeitada em Taquaruçú por seu conhecimento e trato com ervas medicinais fica no reduto cuidando de doentes, velhos e crianças. Em 1914, as tropas do governo atacam novamente Taquaruçú onde ela luta bravamente.
Chica Pelega morre quando a igreja, tomada pelo fogo, desaba em cima do galpão onde se encontravam mais de 300 pessoas.
Rosa Paes de Farias, filha do grande líder Chico Ventura, foi uma das últimas sobreviventes da guerra e viveu até os 98 anos. Fazia as bandeiras de guerra e os uniformes dos Pares de França, tropa de elite dos revoltosos. Jamais se arrependeu da resistência. Afirmava: “Nós estávamos aqui e vieram nos atacar. O que havíamos de fazer? Resistir. Houve muita morte de lado a lado. Mas muito soldado passou para o nosso lado”.
O papel das mulheres menos conhecidas também foi fundamental. Enquanto os homens lutavam em várias frentes de combate elas cuidavam dos filhos, dos doentes e da obtenção e preparação de alimentos. Ao final da guerra foram tão humilhadas e maltratadas quanto seus maridos e filhos.
fonte.http://contestadoaguerradesconhecida.blogspot.com/
Ficha técnica.
Nome: Guerra do Contestado
Data: 10/1912 à 08/1916
Tempo da guerra: 46 meses
Local: Região Sul (Paraná e Santa Catarina)
Porque aconteceu: Construção da estrada de Ferro São Paulo/Rio Grande do Sul, deicando inuimeras familias camponesas sem suas casas e terras. Este fato, gerou muito desemprego entre os camponeses da região, que ficaram sem terras para trabalhar.
Descrições adicionais Chamou-se Contestado a área de 40 mil quilômetros quadrados disputada por Santa Catarina e Paraná. Além de terras, havia em jogo grandes florestas de madeiras nobres e imensos ervais nativos, que produziam erva-mate.
Santa Catarina já havia ganho três disputas judiciais no Supremo, sem nunca ver cumprida suas determinações.
Poucos moradores e fazendeiros tinham documentação das terras que ocupavam e exploravam. Esta situação começou a mudar no início da República, com os “coronéis” legalizando grandes extensões em seu nome e, depois, com a chegada da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande, cujos construtores ganharam 15 quilômetros de cada lado da ferrovia para explorar madeira e erva-mate.
A Guerra do Contestado mostra a forma com que os políticos e os governos tratavam as questões sociais no início da República. Os interesses financeiros de grandes empresas e proprietários rurais ficavam sempre acima das necessidades da população mais pobre. Não havia espaço para a tentativa de solucionar os conflitos com negociação. Quando havia organização daqueles que eram injustiçados, as forças oficiais, com apoio dos coronéis, combatiam os movimentos com repressão e força militar. ht://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/guerra_contestado.htm Lideranças: A Guerra do Contestado mostra a forma com que os políticos e os governos tratavam as questões sociais no início da República. Os interesses financeiros de grandes empresas e proprietários rurais ficavam sempre acima das necessidades da população mais pobre. Não havia espaço para a tentativa de solucionar os conflitos com negociação. Quando havia organização daqueles que eram injustiçados, as forças oficiais, com apoio dos coronéis, combatiam os movimentos com repressão e força militar. http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/guerra_contestado.htm